Monday, June 13, 2005
VIVEU EUGÉNIO DE ANDRADE
Respiro o teu corpo
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Eugénio de Andrade
Wednesday, June 08, 2005
O QUERER
Tua boca rubra e fresca
beijo, e a sede não se apaga:
que em cada beijo quisera
beber toda a tua alma,
Enamorei-me de ti;
e é doença tão má
que dizem os que se amam
que nem com a morte acaba.
Ponho-me louco se escuto
o rumor da tua saia;
e o roçar da tua mão
dá-me vida e depois mata-me.
Eu quisera ser o ar
que toda inteira te abraça;
eu quisera ser o sangue
que corre em tuas entranhas,
São as linhas do teu corpo
modelo das minhas ânsias,
o caminho dos meus beijos
e o íman do meu olhar.
Sinto, ao cingir tua cinta,
uma dúvida que mata:
quisera ter, num abraço,
todo o teu corpo e tua alma.
Estou doente de ti;
da cura não tenho esperança:
na sede deste amor louco
és minha sede e minha água.
Maldito seja o momento
em que entrei em tua casa,
em que vi teus olhos negros,
beijei-te a boca escarlate.
Maldita seja esta sede,
maldita seja esta água!..
Maldito seja o veneno
que envenena e que não mata!
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill