Thursday, December 07, 2006

 
Violência Doméstica: 37 mulheres mortas em Portugal num ano

Entre Novembro de 2005 e o mesmo mês deste ano morreram em Portugal 37 mulheres vítimas de violência doméstica.



TAMBÉM COMIGO

Nunca serei capaz de poeticamente narrar este horror.
Um desespero que faz parte da vida de todos os dias. Exala para dentro da nossa casa os gritos e os estrondos do 3º andar do teu prédio, do prédio em frente, do andar de cima lá do escritório. Dos ruídos e rugidos fantasmagóricos por detrás das paredes ao cair da tarde, aos fins-de-semana e pela madrugada fora.
Que existe na família da Cila, da Elsa, da D. Marília, da Srª Engª Margarida e da Arquitecta Catarina... e da cunhada da tia da prima dela.
Que é físico, emocional e psicológico...que se cobre com as cores da dor, da vergonha, da falta de meios e de coragem.
Que faz parte de um universo ao qual erradamente pensamos não pertencer.
Que existe com muito pouca decência mas que mata a todos os níveis. Que é insuportável para a vida.
Nunca serei capaz de poeticamente dizer da prisão que este trauma cria dentro das próprias mulheres.
Da questão cultural, da questão educacional, da falta de apoio social, da questão de respeito pelo ser humano.
Poeticamente não é possível contar, escrever, narrar, comunicar algo que é poeticamente incomunicável.
As palavras poderiam ser usadas, as frases poeticamente construídas, as tentativas feitas. Mas a conspurcação seria tal que a poesia mascarar-se-ia de uma outra qualquer coisa por vergonha.
Também por isso é impossível contar como foi, como realmente é, o que realmente é sofrido, sentido, desesperadamente calado ou inconsequentemente gritado.
Não é possível falar poeticamente do que realmente se vive.
Não é possível falar do que os homens também são capazes.

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